Teu olhar indecifrável roubava minha atenção. Olhos de cigana oblíqua e dissimulada, eu dizia. Ela ria. O rosto levemente corado entregava uma dose de timidez. Disfarçava desviando o olhar e agitando os cabelos com a mão. Eu contornava teu corpo com meus braços e pedia.
– Me beija? – Baixinho ao pé do ouvido.
– Beijo. – Sussurrando respondia.
Ela, então, tocava os lábios nos meus. Teu beijo tinha gosto de fruta mordida. Ah! As leves mordidas… culpadas por brincar com minha imaginação. De repente eu estava beijando teu pescoço, espalhando meu cheiro e ladroando arrepios por todo seu corpo.
Teu corpo era perfeito, pois era enfeitado com mínimos defeitos. A pele cuidadosamente pigmentada proporcionava um pantone único com textura doce e suave. Pintinhas dispersas davam um charme. Curvas, seios assimétricos, pequenas linhas em formas de estrias…
Era pura poesia – que poucos são capazes de ler.
Eu sabia, não a compreendia, afinal, ela possuía os melhores atributos da alma feminina: imprevisível, intensa e louca. Com desejo arrancava minha roupa e chupava com vontade, apreciando cada detalhe. Ora devorava, ora era devorada. Nosso suor misturava, os movimentos sincronizavam, nossos corpos se entrelaçavam.
Ouve-se sinceros gemidos.
Dois longos suspiros. Dois espontâneos sorrisos. Depois da tempestade de sentimento, shiu!
Silêncio…
…
Preenchido com respirações ofegantes e, em seguida, calmaria. Olhos de cigana oblíqua e dissimulada, eu dizia. Ela ria. Deitava com a cabeça sobre meu peito, acariciando meu cabelo.
– Me beija? – Baixinho ela pedia.
– Beijo. – Sussurrando eu respondia.
–
“Olhos de ressaca? Vá, de ressaca.” – Machado de Assis.